“Aqui vai uma dica para todos os homens:
A exatamente 2 anos e meio eu conheci uma garota. Eu com 18 e ela com
14. Foi simples, não teve nada a ver com destino, penso eu. Pedi uma
colega em comum para que me apresentasse a ela, e ela pediu apenas o meu
orkut (era orkut na época, rs). Eu fiquei dias esperando, e nada de um
sinal dela. Passou algumas semanas, e no dia 19 de janeiro de 2010 eu vi
ela com as amigas em uma festa. Criei coragem e fui falar com ela. Ela,
claro, já sabia de mim. A conversa fluiu tão calma, tão doce, tão macia
que parecia que não era eu que estava ali. Ficamos mais ou menos 3
horas conversando sem parar, e a mãe dela chegou pra buscá-la. Eu a
adicionei no msn e se passasse um dia sem conversar com ela, eu ficava
louco, sim, louco. Louco de preocupação. No dia 30 desse mesmo mês, eu a
beijei pela primeira vez. Foi a coisa mais alucinante e natural que eu
já vivi. Ela era tão tímida que eu queria ficar agarrado a ela o tempo
inteiro. Continuamos ficando e nada de namoro, só propus ficarmos sério.
Erro meu. 5 de junho. A princesa completaria 15 anos, e com surpresa
recebi o convite pra ser o príncipe na festa dela. Foi esquisito,
falando sério, rs. Todo mundo ficou olhando, aplaudindo, gritando e ela
toda fofa com as bochechas rosadas de vergonha. Depois da valsa eu a
puxei pra dançar e ela parecia estar nas nuvens, parecia uma princesa.
No final do mês, ela me viu conversando com a minha ex e decidiu
simplesmente se afastar de mim, pensando que eu ainda estaria com ela.
Mas não, naquele dia eu tinha feito uma coisa que eu nunca imaginei que
faria: estava dispensando a garota mais gata da minha roda de amigos.
Tudo isso sabe para que? Para pedir a minha princesa em namoro! Ela não
me atendia, não falava comigo nas redes sociais, e eu maluco, perdido de
saudade. No dia 30 de julho é costume ter uma festa no Clube Náutico,
que é afastado pra caramba da cidade e é hábito a maioria das pessoas da
região irem pra lá. Eu mandei um sms pra ela dizendo que iria e que
precisava muito que ela fosse pra gente ter uma conversa. Ela só me
respondeu “tudo bem, Felipe”. Bastou essa resposta pra eu me encher de
pensamentos, de ilusões, de imaginações, e o pior de tudo, ansiedade.
Chegou o tão esperado dia e eu e meus colegas começamos a beber desde
cedo. Quando deu no final da tarde pegamos o carro do pai do meu amigo e
fomos em direção ao Náutico, tudo certo, tudo tranquilo, eu só
precisava chegar vivo até lá pra eu ver aquelas bochechas rosadas de
novo. Faltava pouco. O Yago, de tão sedento de álcool, parou no caminho
pra comprar mais garrafas de Big Apple, e continuou dirigindo, com as
garrafas nas mãos. Eu não tava gostando daquilo e pedi as garrafas, ele
me ignorou e virou pra trás pra tirar sarro do Bruno que não bebia e eu
só me vi batendo no vidro da frente e caindo de fora do carro. Mais
nada. 3 meses em coma. 3 meses sem saber de nada. Não, você não tem
ideia do que é isso. É a pior sensação do mundo. Querer e não poder.
Tive que ir para um hospital de outra cidade com melhor sofisticação.
Quando acordei e olhei a minha volta, eu não sabia o que pensar. Eu não
podia me mexer, só olhava aquele quarto com varias rosas, cartões,
presentes, várias pessoas torcendo por mim. Eu chorei, sim, eu chorei.
Eu não sabia o que sentir. Acordei mais velho, passei o meu aniversário
dormindo. Eu tinha 19 anos e tinha acabado de receber a notícia que tive
traumatismo craniano. Não é pra qualquer um. Tive alta semanas depois e
no mesmo dia que cheguei em casa fui recebido com uma festa só pra mim.
Vi pessoas que não via a tempos, mas procurei só uma, e não a vi. Na
outra semana, numa quinta feira a noite, ela veio até a minha casa. A
minha vontade era abraçá-la, apertá-la, beijá-la, tocá-la, mas o meu
corpo me impedia, eu estava deitado, custando a me mexer. Quando ela me
viu, ela andou mais depressa pra me abraçar, ficou algum tempo agarrada a
mim e quando me soltou, vi os olhos vermelhos e molhados combinando com
as bochechas rosadas, aquelas bochechas tão minhas. Fiquei mostrando os
machucados pra ela, mostrei que eu conseguia mexer a minha perna
direita e quando vi que ela não estava mais prestando atenção, olhei pra
onde ela olhava. A minha ex tinha chegado. Eu não tava nem aí. Puxei a
mão dela, e dei meu melhor sorriso, falando com os meus olhos. Ela viu a
cumplicidade que existia entre a gente, e me beijou a testa. Disse que
estava tarde e voltava depois. Mas não, ela nunca mais voltou. Passou
meses, e nada dela. Continuei refazendo a minha vida, comecei a fazer
fisioterapia, descobri que ainda podia tocar guitarra, descobri que
ainda podia andar, comecei a sair mais frequentemente, comecei a
perceber o vazio que tava crescendo dentro de mim. No dia 27 de julho de
2011, fui chamado pra uma festa de 15 anos, e eu fui, só para me
lembrar dos tempos antigos que prefiro nem comentar. Cheguei tarde na
festa, com o Thiago me ajudando a andar, mesmo que eu tivesse o andador.
Quando olhei pra pista de dança, quase nem acreditei. Parei atrás dela e
cutuquei o seu ombro. Ela se virou e eu não pude deixar de perceber que
ela ainda gostava de mim. Os olhos dela brilhavam, o sorriso estampado
na boca, e eu só querendo um abraço daquela princesa. Ela leu os meus
pensamentos e me abraçou tão forte que eu gemi, e ela me soltou pedindo
desculpas, rindo junto comigo. Nos sentamos pra conversar, colocamos o
papo em dia e tiramos o atraso da conversa. Como no mesmo dia em que
conversamos pela primeira vez, a mãe dela chegou pra levá-la. Eu só pedi
pra ela não sumir e recebi um longo beijo na testa. Depois desse dia,
eu não parava de pensar nela, queria de todo jeito encontrar com ela e
até pensei em ir na sua casa, mas todos falavam que seria inconveniente e
os caralho a 4. Mas mesmo assim não parei de pensar, de querer, de
desejar. No dia 26 de setembro, iria ter campeonato de skate e toda a
galera ia, e eu sem pensar, fui. Me sentei pra ver as categorias, e tava
super vidrado com aqueles moleques fazendo coisas que eu fazia anos
atrás. Não vou nem falar quem chegou na minha frente, porque você já
sabe, rs. Eu deixei cair minhas muletas de tão surpreso que eu fiquei.
Ela me deu aquele abraço apertado e dessa vez eu retribuí. Vi que vinha
um cara atrás dela, e ela logo se apressou pra me apresentar pra ele,
mas era em vão, a gente já se conhecia. Apertei a mão dele e ficamos
conversando, contando as últimas notícias. Não o via fazia tempo, desde
quando desmontamos nossa bandinha de porão. Perguntei ele da bateria e
nem ouvi a resposta, fiquei olhando ela. Eu não podia acreditar. Ela
tava de mão dadas com ele, encostada nele, e eu, tolo, não tinha
percebido. É claro que ela tinha continuado a vida dela, quem iria
esperar por um cara que teve traumatismo craniano não é? Falei que
precisava sair e nem voltei, fui direto pra casa. Não conseguia pensar
em mais nada, eu tinha perdido ela. O Thiago mais tarde apareceu lá no
meu quarto, querendo saber por que minha mãe tava preocupada com a minha
falta de fome daquela noite. Falei, contei, desabafei tudo com ele. E
ele só olhava pro chão. Eu perguntei o que era e ele tossiu. “Fill,
aquela menina ainda te curte, naquela festa que você viu ela, eu
conversei com ela também quando ela foi no banheiro. Contei tudo que
você tava passando e sabe o que ela fez? Chorou, Fill. Chorou igual uma
criança. Ela me falou que iria até o inferno pra ver você, mas que tava
cansada de sofrer, cansada de pensar que você e a sua ex nunca se
separaram, cansada de ter o coração partido. Ela simplesmente decidiu
tentar esquecer. E tem mais: dá pra ver o jeito que vocês se olham. Ela
só pensa que você nunca esteve nem aí pra ela”. Eu fiquei calado
triturando tudo aquilo dentro de mim, e eu não podia fazer nada, não
queria estragar o seu relacionamento, não queria estragar o recomeço
dela. E até hoje ela vive lá, e eu aqui. Eu pensando nela e ela pensando
em mim. Por isso eu te digo uma coisa pra você que aguentou ler até
aqui. Pensa bem antes de deixar a mulher da sua vida ir embora, pensa
bem antes de colocar o orgulho em primeiro lugar, pensa bem antes de não
tentar. Eu não me arrisquei, não falei enquanto podia, não acreditei e
olha só no buraco em que eu me meti. Então faça hoje, busque hoje, corra
atrás hoje, desabafe hoje, não fique remoendo ansiedades e agonias
antes do próprio tempo. Antes de mais nada, conquiste a sua felicidade.”
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